sexta-feira, 21 de outubro de 2011

MINHA AGONIA INCONFESSA...




Hoje é 31 de outubro de 2010. Ás 6,30h a manhã levanta-me, costumeiramente, para ler jornais, preparar o meu próprio café, meditar sobre o dia a dia de um brasileiro que desde o dia 01 de janeiro de 1971 é funcionário público federal, que ainda não lhe foi concedido a sua aposentadoria por questões administrativas, o que o agride em seus direitos, ainda que não fosse pelos direitos constitucionais de cidadão, mas por ser este que vos falar um idoso, carente de repouso e respeito.

Num outro dia 31, só que de março de 1964, às 5,30h a manhã levantava-me para eu ir para a faculdade de Letras Português e Literatura, não tinha tempo para ler jornais e nem tinha café para me alimentar, mas eu ainda assim meditava muito sobre o dia a dia de um brasileiro, com a barriga vazia mas que enchia a mente de esperanças e que prometia a si mesmo, que se fosse preciso iria para a rua lutar contra tudo e contra todos que se constituíssem em obstáculos à sua liberdade e ao seu futuro, de resto o futuro de todos os brasileiros.

Agora, a minha  mente não quer parar de pensar um só instante, em um outro dia 31, só que o de dezembro de 2010. Essa data será reconhecida como o dia que antecedeu o pior momento histórico do povo brasileiro. O dia em que um arroubo e um desastre da natureza legou ao Brasil a consagração da vontade de um homem que desrespeitando todas as normas e preceitos do comportamento humano,  da ética e da moral,  perpetrou a agressão gratuita a todas as leis do nosso ordenamento jurídico, às barbas do suposto poder judiciário,  feito esse que deixa para o povo brasileiro o legado da obstaculização  a todo o  progresso,  sobre todos os aspectos.

Hoje eu não acordei bem. Não me encontrava na cozinha onde tentava fazer o meu café. A mesa já não estava mais no mesmo lugar de sempre. Troquei as facas na hora de passar a manteiga no pão. Coloquei o café no coador melita e fiquei esperando para bebê-lo, o que não aconteceu, pois não ficava pronto nunca, mas como, se não ligara a cafeteira. Fiquei atônito, perdido dentro de 9m², da minha cozinha que eu os conhecia tão bem, como a própria palma da mão. Este dia 31 de outubro de 2010, está fadado a ser o pior dia da minha vida. Não tenho dúvidas!

Neste instante me veio logo à mente toda a minha trajetória, desde a época de estudante, ralando por inúmeras e benditas – nem sei se hoje ainda existem – “Casa do Estudante”, à época eram mantidas pelo governo da união. Hoje nem sei se existe mais, a própria União, que é a Nação politicamente organizada e constituída em um Governo? Pensei em toda a minha luta para chegar à conquista de um diploma de nível superior, foi o que consegui, o de bacharel  em Direito, sim porque o de Letras não tive a oportunidade de concluir pelas dificuldades naturais da minha precariedade.

De onde eu venho, não é muito fácil imaginar de como era de onde eu venho. Pela fibra do sertanejo que no dizer de Euclides da Cunha é antes de tudo um forte, agora se pode imaginar de onde eu venho. O que enfrentei e varei mundo afora... Só o fiz tudo que fiz por um motivo único, o conhecimento, o ensino a educação, pela qual me desdobrei em mil, para alcançá-la, para conquistá-la, para persegui-la custasse o que custasse. Eu sabia que tudo o que eu sonhava e almejava somente através dos estudos o conseguiria. Dediquei a minha vida todas dos 10 anos até os 28 anos perseguindo o meu ideal, meta que estabeleci à minha vida, inarredável, para conquistar a minha  liberdade e a minha independência econômica, política e social. Eu consegui,  filhos do Brasil, eu consegui!!!

Porém, apesar de trabalhar desde 1967, até hoje, ainda  não me aposentei. Não que a luta tenha sido inglória, mas mesmo tendo sido vítima da justiça dos homens, e eu os entendo em suas fraquezas e mais do que isso em suas fragilidades e ignorâncias. E é exatamente este aspecto que tanto me tem abalado a consciência, o de que para se perpetrar uma violência atroz contra um povo incauto, tenha  que ser tal violência e  essa barbaridade concretizada  exatamente por um homem ignorante e despreparado. Aquilo que sempre foi a minha mais importante aspiração, a mais  almejada condição de progresso e melhora pessoal do ser humano que era,  o conhecimento, a educação, a cultura e a evolução mental, de nada me serviria, vez que para  se alçar o poder, e conduzir os destinos de um povo,  nestes tempos hodiernos, nada disso é necessário.

Onde foram parar os meus sonhos... O que eu vou dizer agora para os meus personagens invisíveis que sempre me acompanharam e me intuíram dizendo e cobrando o meu empenho nos estudos, nos deveres morais no comportamento ético, na honestidade, no respeito ao semelhante, no amor a Deus, no apreço e respeito aos símbolos da minha Pátria? Digam-me o que foi que eu fiz de errado? O que vou dizer aos meus filhos e netos. Após mostrar-lhes as fotos da minha vida e contar-lhes todos os meus sofrimentos e agruras para conseguir chegar aonde cheguei, varando  todos os sertões e todas as dificuldades que a vida me impôs!

Dizer o que?... Dizer a eles que para vencer na suas vidas não mais se torna necessário e preciso se dedicar de corpo e alma como fez o seu pai e avô, aos estudos, às pesquisas, aos deveres da escola e da educação, pois pelo exemplo visto isso se tronou desnecessário e contraproducente? Agora, meus amiguinhos e viajantes dos tempos, reina o reino das trevas e da ignorância dos homens detentores do poder, poder de interferir no nosso futuro, poder de decidir o nosso destino, poder de destruir os nossos sonhos e liberdades, poder de anular a nossa consciência, porque aquele que ascendeu ao posto de mando e decisão é o representante do mal e a encarnação do anticristo. Por uma questão lógica e para não promover a divulgação e nem a propaganda, me reservo ao direito de não pronunciar o seu nome.  

Rio, 01/01/2011.

Emmanuel Avelino.

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